Cohousing: origem e conceito
- Elis Stropa
- 20 de ago. de 2018
- 4 min de leitura
O conceito de cohousing surgiu pela primeira vez na década de 1960 na Dinamarca, como bofællskaber na língua natal, e pode ser traduzido como co-habitação. Nessa época, as discussões sobre arquitetura estavam em alta no mundo inteiro. A primeira e segunda guerras mundiais haviam mostrado como a racionalidade humana não era suficiente para ordenar o mundo de modo a satisfazer o desejo de todos, e acabaram por formar uma sociedade repleta de novas demandas. A constatação do fracasso da promessa da arquitetura moderna levou a uma série de movimentos que buscavam encontrar uma linguagem arquitetônica que atendesse às subjetividades e pudessem criar vínculos com seus habitantes.
Foi nesse contexto que se iniciaram as discussões sobre novas maneiras de morar e de ocupar a cidade, e que resultaram no grande caldo onde se encontravam situacionalistas e grupos como Archigram e Archizoom, além de tantos outros que abordavam arquitetura de diversas maneiras. Na mesma lógica de questionar a realidade e propor novas soluções, foram escritos dois artigos que deram o pontapé inicial para a formação das comunidades cohousing: "Children Should Have One Hundred Parents", escrito por Bodil Graae em 1967; e “The Missing Link between Utopia and the Dated One-Family House”, com autoria de Jan Gudmand Høyer e publicado em 1968. O texto de Graae culminou na organização de 50 famílias que compartilhavam da opinião e desejo da autora. Dessas 50 famílias, 27 persistiram na perseguição desse desejo e formularam um projeto de comunidade cuja construção foi concluída em 1972. Estabeleceu-se assim Saettedammen, a primeira comunidade de cohousing no formato como conhecemos hoje. O artigo de Høyer, por sua vez, também resultou na organização de um outro grupo de famílias e na construção de outra comunidade, Skraplanet, concluída em 1973.
Resumidamente, cohousing é um modelo de habitação feito para uma comunidade que se forma de maneira intencional e que planeja o local onde vai habitar em conjunto, buscando atender com ele as necessidades e desejos de todos e decidindo quais estruturas desse novo lar deverão ser compartilhadas por todos. Para além das estruturas físicas de habitação, o cohousing tem uma lógica de integração e sociabilidade pela qual todos os integrantes se interessam. Ele pressupõe cooperação e convivência entre os habitantes. As relações dessa comunidade podem se dar de diversas formas, e vão evoluindo conforme novas tecnologias surgem. Ela pode, por exemplo, estar contida na manutenção de uma horta comunitária, em um esquema de caronas entre os moradores, revezamento dos pais para cuidar das crianças ou leva-los à escola, jantares ou cafés da manhã em conjunto, enfim, qualquer atividade ou estrutura que a comunidade considerar de interesse comum. Portanto, uma chousing é mais que um condomínio ou uma vila, é um estilo de vida.
Em termos de estrutura física, uma cohousing geralmente se configura a partir de uma arquitetura focada nas áreas comunitárias. As comunidades tradicionais no hemisfério norte têm seu desenho como o de uma pequena vila, onde cada família tem uma casa tradicional em seu próprio lote. Há uma grande área livre central com uma "casa principal" que abriga usos comunitários, eventualmente lavanderia, uma grande cozinha e uma grande sala de jantar, salas recreativas etc. As áreas livres são todas comunitárias e destinadas a diversos usos, mas por vezes as casas particulares também possuem seus próprios jardins. Os detalhes sobre quais equipamentos devem ser adquiridos em comum e qual será o uso de cada área são decisões do grupo. Para abrigar tudo isso, as famílias geralmente buscam grandes lotes nas periferias das cidades, em subúrbios ou mesmo em áreas rurais.

É difícil conceber que as cohousing em sua forma original tenham espaço em cidades cada vez mais densas e em constante expansão. A vida urbana, para usufruir de todas as suas comodidades, não pode estar afastada da cidade. Mas dos anos 1960 em diante o conceito de cohousing foi evoluindo e diversos outros tipos de cohousing começaram a surgir. Cada vez mais o conceito se resumiu à sua essência, a vida comum, e permitiu que a forma arquitetônica variasse. Hoje, os Estados Unidos abrigam 138 cohousings consolidadas e mais de 100 em formação. O Canadá é outro país onde esse tipo de habitação cresce, tendo 13 comunidades consolidadas e outras 12 em formação e desenvolvimento. Em seu país de origem, a Dinamarca, aproximadamente 250 comunidades se estabeleceram no período entre 1987 e 2015, e estima-se que hoje 1% da população (cerca de 50 mil pessoas) viva em cohousings.
Nesse interim de crescimento, muito se aprendeu por tentativa e erro. As cohousings construídas hoje tendem a ter as residências particulares menores e as áreas de uso comunitário bem maiores do que há 30 anos atrás. Essa gradativa mudança nos faz perceber que em uma comunidade bem articulada, a casa particular não precisa ter o tamanho tradicional, pois não abriga mais todas as atividades da família, que passa muito mais tempo nas áreas coletivas. Chegamos aqui a uma tendência que condiz com a necessidade de se ocupar cada vez menos espaço nas grandes cidades.
Para quem quiser investigar mais a fundo, seguem as fontes:
História:
http://cohousing.ca/history-of-cohousing/ http://www.karavans.com/cohousing.html http://www.cohousing.org/node/1537 http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02763893.2015.989770
No Brasil: http://oglobo.globo.com/economia/imoveis/grupos-de-brasileiros-tentam-criar-primeira-cohousing-do-pais-10799790 Newcastle University: https://2016-2017.nclurbandesign.org/2017/03/planning-cohousing-scheme/ Entrevista com Lilian Avivia Libochinski: https://www.youtube.com/watch?v=8teZAlR9RJk
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