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Série de arquiteto?

  • Foto do escritor: Elis Stropa
    Elis Stropa
  • 9 de mai. de 2018
  • 3 min de leitura


Em 2017 a Netflix lançou uma série documentária feita para os amantes de arquitetura. "As Casas mais Extraordinárias do Mundo" chegou para mostrar que não precisamos nos deliciar apenas com os realities e documentários de culinária, como o atualmente celebrado MasterChef ou a série Chef's Table, também distribuída pela plataforma de streaming. Existem outros temas que podem muito bem cativar a atenção de leigos. Talvez nós arquitetos já soubéssemos disso há muito tempo, mas não é sempre que alguém aposta em uma produção midiática pautada no tema da nossa profissão, ainda mais voltada a um público que não necessariamente somos nós.


A primeira temporada conta com quatro episódios temáticos, que nos apresentam cerca de quatro casas cada. Assim, durante a uma hora de cada episódio somos levados pela atriz Caroline Quentin e pelo arquiteto Piers Taylor a conhecer  casas icônicas na "Montanha", na "Floresta", no "Litoral" ou no "Subterrâneo". A dupla se equilibra na medida em que ela traz uma visão apaixonada por arquitetura, porém totalmente leiga, enquanto ele usa seu conhecimento de profissional para explicar ações projetuais, conceitos, alguns efeitos causados pela arquitetura e uma ou outra técnica utilizada.



Acabei me surpreendendo ao ver muita gente reclamar nos comentários da série no Netflix. Muitos diziam que era superficial, particularmente porque não explorava o orçamento, o detalhamento e as técnicas construtivas por traz de cada casa. Muitos também apontavam que todas as casas mostradas deviam ser extremamente caras e muito fora da realidade de qualquer cidadão comum. Acredito que essa batelada de reações negativas se deu por conta de uma grande expectativa vinda de um público que não era o público alvo da série. É claro que nós arquitetos gostaríamos de saber coisas muito diferentes de um espectador comum. Mas a série não foi feita para nós, foi feita para os leigos. Foi feita para despertar no senso comum uma noção que poucos têm sobre arquitetura: que ela também é arte, também é solução e também é adaptação.


Muitos profissionais reclamam que os cliente não valorizam nossa profissão, não reconhecem o nosso trabalho... E quando chega uma série que pode mostrar para eles do que o arquiteto é capaz a reação é negativa? Dito isso, passemos para o segundo ponto de reclamação: as casas mostradas não são acessíveis ao cidadão comum. Realmente, elas não são. São casas caras construídas em locais impossíveis e encomendadas por clientes ideais. Agora devemos lembrar que o nome da série é "As Casas mais Extraordinárias no Mundo". Para quem entende um pouco de língua portuguesa, quando decompomos a palavra "extra-ordinário" notamos que ela significa "aquilo que não é ordinário" ou "aquilo que não é comum". A série não se chama "Arquitetura linda e Acessível" nem "Casas Baratas mais Bonitas do Mundo".


Como leiga, adoro programas de culinária, e quando assisto Chef's Table não me importo se o episódio não mostrou o passo a passo das 10 receitas do chef que foi apresentado no episódio e também não penso que eles deviam colocar qual é o preço de fazer uma sobremesa com terra destilada (sim, terra destilada, ela aparece no episódio 3 da 4ª temporada). O ponto é: da mesma forma que Chef's Table não vai dar aos espectadores mais do que um gostinho da gastronomia de cada chef, The World's Most Extraordinary Homes não vai nos mostrar mais do que um gostinho das casas que apresenta.


Eu assisti à série preparada para isso. Nunca esperei que ela trouxesse técnica e orçamentos. Talvez por isso não tenha me frustrado, ao contrário, como recém formada lembrei de muita coisa que me motiva nessa profissão. Se nos permitirmos, vamos deixar que nossos olhos brilhem ao vermos os detalhes industriais precisamente executados, ou o cuidado meticuloso do arquiteto que encaixou o projeto na paisagem. Cada vez que os apresentadores deixem de comentar algum detalhe, vamos sentir lá no fundo a pequena satisfação de saber que percebemos aquilo sozinhos porque, afinal, nós somos arquitetos. Assim, o que podemos aproveitar dessa série então? Bom, como um arquiteto buscando um curso nada. Como um espectador que nunca se cansa em ver o que o ser humano é capaz de construir, podemos sim absorver muita coisa, inclusive as referências. Minha dica é: assista pelo entretenimento, conheça as casas, veja qual te desperta curiosidade e, se quiser, vá atrás das informações que faltam, afinal, ser curioso faz parte dos arquitetos apaixonados pela profissão.

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